Fachada reformada valoriza unidades
Fonte: O Estado de S. Paulo
AutorZAP em Casa
Valor de apartamentos em prédio triplicou após modernização
Felipe Araújo/AEMaior leveza – Placas de concreto instaladas entre janelas para barrar o vento davam aparência feia e foram retiradas durante retrofit.
A aparência de um condomínio muito diz sobre a forma como ele é conservado ao longo dos anos. Tanto que é capaz até de influenciar no valor das unidades. “O mercado está percebendo que o tratamento das fachadas é importante não apenas pela harmonia, pelo aspecto estrutural e construtivo, mas também para promover alguns benefícios para o próprio edifício”, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea), Fernando Pinheiro. A entidade promove a partir de amanhã um fórum com o objetivo de discutir o assunto.
A valorização dos apartamentos como decorrência de recuperação de fachada foi o resultado, por exemplo, verificado nos três edifícios do condomínio Jardim América, na Rua da Consolação, nos Jardins, zona sul, que passou por um retrofit. “Antes tinha apartamento à venda por R$ 80 mil e ainda não encontrava quem quisesse comprar. Hoje, tem quem compre a R$ 220 mil à vista”, afirma a síndica Ofélia Rocha Castro.
Há cinco anos, o aspecto do condomínio era completamente deteriorado. “A fachada era feia, suja e toda estragada. A gente ouvia as pessoas na rua chamarem o nosso prédio de gaiola”, recorda. “Não tinha cara de residencial.”
Isso porque, além da má conservação, as janelas eram divididas externamente ao meio por placas de concreto – uma solução de engenharia encontrada na época da construção, há 36 anos, para barrar o vento. “Nós ficamos numa região alta, e este foi um dos primeiros prédios acima de 20 andares construídos por aqui”, explica.
A alternativa, no entanto, prejudicava a estética do prédio. Assim, quem olhava o edifício por fora, formava uma idéia errada de como ele era a distribuição por dentro. “O pessoal não imaginava o tamanho dos apartamentos (de dois e três quartos). Olhava e achava que era de um quarto ou quitinete”, diz Ofélia.
Ela explica que as unidades são bastante amplas e contam com salas de 8 m comprimento por 4 m de largura. E há blocos com uma unidade por andar. “É difícil encontrar um apartamento desse tamanho.”
Para modernizar o visual do prédio, em primeiro lugar, foram retiradas todas as placas externas que dividiam as janelas, o que tornou a aparência geral mais limpa e despoluída.
Depois, toda a fachada, que tinha acabamento em concreto já bastante escurecido, foi pintada com cores mais claras, o que deu ao condomínio um caráter residencial. Aprovação
Uma obra grande como esta obviamente custou mais do que se fosse apenas de manutenção. Na época, o orçamento ficou em torno de R$ 800 mil – uma despesa extra que foi rateada entre os proprietários. Além disso, o trabalho durou três anos.
Mesmo sabendo disso, o condomínio não enfrentou dificuldades para conseguir a aprovação dos moradores em assembléia para o início das obras. “Foi aprovado por unanimidade; todo mundo queria porque não tinha mais condições de morar aqui daquele jeito”, diz Ofélia.
Durante a reforma, segundo a síndica, os moradores foram compreensivos com o incômodo do barulho e da sujeira. “São problemas de toda obra, mas o pessoal colaborou muito. Ninguém achou ruim.”
A mudança acabou valorizando também as outras áreas comuns do condomínio. “Temos uma área maravilhosa com jardim e plantas criado pelo paisagista Burle Marx.”
Entretanto, mesmo após a reforma da fachada, o trabalho da síndica não pára: “Agora estamos trocando os elevadores”, diz.
Retrofit pode representar economia futura
Além de deixar a aparência dos prédios mais bonita, o retrofit de fachada – que envolve alteração de elementos – pode representar ganho para o condomínio em outros aspectos. Conforme o vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea), Fernando Pinheiro, é possível, inclusive, economizar energia dentro das unidades, apenas trocando o material dos revestimentos.
“Brises e persianas quando instaladas podem barrar a maior incidência de sol direto, refrescando as unidades e, assim, consegue minimizar uso de ar-condicionado”, explica o arquiteto. Com as novas tecnologias aplicadas aos materiais de construção, ao modernizar as fachadas dos edifícios, é possível também reduzir o trabalho de manutenção. “O uso de elementos soltos, cerâmicos, ou placas ventiladas, que não ficam grudadas, além de reduzir a temperatura interna, evita a infiltração e facilita a manutenção, pois são executados em armações de tal forma que fica fácil a montagem e a desmontagem.”
Outras soluções podem ainda melhorar a qualidade de vida de quem mora. “Alguns vidros novos já têm películas que protegem contra raios ultravioleta”, explica Pinheiro.
Entre os prédios residenciais, este tipo de investimento ainda não é tão difundido quanto nos comerciais. Porém, na opinião de Pinheiro, a tendência é que as unidades se modernizem aos poucos.
Segundo ele, as áreas onde se observa maior número de edifícios com a fachada modernizada são as centrais, pois concentram prédios mais antigos. Nesta região, além da modernização também ocorrem trabalhos de restauros, em que as principais características dos edifícios são mantidas. “Tenho visto prédios do Ramos de Azevedo sendo recuperados”, diz.
Diferentemente das obras de manutenção de fachadas, o retrofit requer um planejamento maior. Por isso, ele recomenda que o condomínio consulte um profissional especializado.